Segundo a supervisora da Seção de Apuração e Proteção da VIJ-DF, Ana Luíza Müller, o trabalho dos agentes de proteção ajuda a Justiça Infantojuvenil a cumprir sua missão com eficiência e celeridade. “Eles representam o juiz e desempenham uma função que faz a diferença na vida de crianças, adolescentes e toda a sociedade. Oferecem espontaneamente o seu melhor para colaborar com a construção de um futuro mais digno, seguro e isonômico. É um ato de amor, respeito e solidariedade”, pontua Ana Luíza.
E mesmo nesse período de pandemia de coronavírus, esses agentes continuam colocando seu trabalho voluntário à disposição da Justiça, conforme destaca o assessor técnico da VIJ-DF, Eustáquio Coutinho.“O trabalho dos agentes de proteção merece nossos aplausos”, enfatiza. De acordo com a supervisora de Apuração e Proteção da Vara, com o elevado número de demandas judiciais na quarentena, os agentes estão trabalhando diariamente – e incansavelmente – para assegurar a prestação dos serviços da Justiça da Infância e da Juventude. “Ser agente de proteção e conviver com agentes de proteção me torna uma pessoa mais otimista, me faz acreditar em um futuro melhor, em um mundo melhor”, afirma Ana Luíza.
Agente de proteção da VIJ-DF há 15 anos, Benedito Ribeiro (o Bené) conta que iniciou na função por influência do irmão, que era voluntário na Vara. Ele diz que começou a tomar gosto pelo trabalho por gostar de lidar com criança. Hoje, mesmo aposentado, não pensa em deixar de ser agente de proteção. “Continuo gostando e não penso em parar”, afirma o voluntário, que coleciona histórias impressionantes vividas nesses longos anos como agente da VIJ-DF.
Uma dessas histórias envolve o caso de cinco crianças encontradas sozinhas e trancadas em um barraco, em Sobradinho. Ao cumprir o mandado judicial de busca e apreensão das crianças na companhia de mais três agentes de proteção, Bené diz que ficou estarrecido com a situação no local. O calor escaldante vindo da telha de zinco do barraco, a sujeira extrema, a falta de condições mínimas de acomodação e de cuidados básicos com as crianças o chocaram. “Ao ver aquela cena, as crianças daquele jeito, eu travei”, conta o agente, que já viveu muitas situações emocionantes envolvendo crianças.
Bené lembra ainda da história de duas adolescentes que eram abusadas sexualmente pelo padrasto e foram retiradas de casa e acolhidas institucionalmente por medida de proteção judicial. Ele conta que o homem ameaçava matar a mãe das meninas e confirmou os abusos para os agentes de proteção na hora da busca com uma naturalidade espantosa. “Causa revolta testemunhar situações desse tipo”, afirma. O consolo de Bené é ter cumprido seu papel e ajudado a livrar as jovens da violência que sofriam cotidianamente.
Cidadania e amor ao próximo
Para Camila Jorge, exercer a cidadania e fazer algo pelo próximo é o que a motiva a ser agente de proteção da VIJ-DF desde 2004. “É gratificante saber que estamos fazendo algo pelo ser humano”, afirma. Ao lidar com tantas situações delicadas envolvendo crianças, as vitórias trazem alegria. Uma história que ficou marcada em sua memória é a de uma menina vinda de outro Estado para tratamento médico em Brasília. Camila conta que foi ao hospital onde a criança estava internada para cumprir um mandado de afastamento da mãe.
De acordo com o relato, a menina tinha um problema gástrico e precisava estabilizar seu quadro de saúde para passar por uma cirurgia. Entretanto, devido às intervenções negativas da mãe, principalmente em relação à alimentação da criança, a menina não conseguia melhorar. Testemunhas disseram ter ouvido a mãe dizer que a filha “só dava trabalho e era um peso na vida dela”. Camila diz que, após o afastamento da mãe, em poucos dias a menina apresentou melhora na saúde. “Com os cuidados adequados, ela já estava até correndo e sorrindo pelo hospital”, conta emocionada.
Quem também vê no trabalho de agente de proteção algo gratificante é Dyego Magnum, voluntário do quadro da VIJ-DF desde 2014. “Cada serviço é muito gratificante; é mais uma criança tirada da situação de risco e vulnerabilidade”, reflete. Dyego lembra de uma menina que estava sendo maltratada e abusada pelo pai até que ele e mais dois agentes de proteção a levaram para uma entidade de acolhimento por decisão judicial.
Nessa história, o que mais marcou Dyego foi a chegada à instituição. “Assim que chegamos, tinham várias crianças brincando e uma delas veio chorando e correndo para abraçar a menina. Era o irmão dela, um pouco mais velho, que ficou muito emocionado ao ver a irmã chegar”, conta o agente de proteção. Segundo ele, o encontro com o irmão fez com que a menina se sentisse mais tranquila e segura com aquela situação nova para ela.
Outro episódio vivido por Dyego mostra que às vezes os agentes de proteção passam por situações que até parecem cena de filme. Ele narra que, ao realizar a busca e apreensão de uma menina acompanhado de outro agente, foi preciso pedir reforço da Polícia e do Corpo de Bombeiros Militar. Na ocasião, a mãe, com ajuda de outros familiares, escondeu a criança dentro da casa e a colocou em risco ao segurá-la junto com um objeto perfurante na mão dentro do box de um dos banheiros da ampla residência. “Por fim, um dos bombeiros conseguiu desarmar a mãe, e com a ajuda dos militares pegamos a criança e a entregamos em segurança ao pai, que tinha conseguido a guarda judicial”, completa. Dyego diz ainda que esse caso também é um exemplo de que situação de risco envolvendo crianças ocorre em todas as classes sociais.
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